A palavra empatia entrou definitivamente no vocabulário e na vida de boa parte das pessoas. Agora, está na hora de começarmos a praticar a comunicação não violenta em nossos relacionamentos pessoais e profissionais.

Alguns podem pensar: “Eu procuro conversar sempre tranquilo, sem gritos ou violência”. Neste artigo, vou tentar mostrar que nem só berros e xingamentos são considerados violentos.

Muitas vezes, durante as conversas, formulamos frases carregadas de julgamentos ou ironias e elas, nem sempre causam bem-estar ao ouvinte e nem a nós mesmos.

Eu tenho um sonho

No início da década de 1960, o pastor Martin Luther King, no qual falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro e, seu famoso discurso, intitulado “I have dream”, inspirou, conscientizou e desencadeou muitas mudanças sociais e comportamentais, nos EUA e no mundo todo.

Nessa mesma época, um estudante que passou toda a vida escolar sofrendo bullyng e vivendo em cenários violentos, conseguia seu título de PHD em Psicologia clínica e seus trabalhos também teriam grandes influências nos acontecimentos da década.

Trata-se do doutor Marshall Bertram Rosenberg (1934-2015), criador do método da Comunicação não violenta – CNV – e que, nessa época oferecia orientação às escolas e universidades que estavam promovendo a integração racial.

O autor propunha que, em momentos conflituosos, era necessário agir e falar com empatia e, que esse era o caminho para solução, evitando acusações e atitudes defensivas.

Essa técnica, proposta por Rosenberg, chegava em uma momento de sociedade polarizada, dividida e, com pessoas, particularmente interessadas em si mesmas.

Os componentes da CNV

A CNV orienta e auxilia as pessoas a reformular a maneira de se expressar, deixando a tendência de respostas automáticas e comportamentos repetitivos.

Isso se deve a maior percepção do momento e do outro, daquele com quem se está falando. A escuta ativa e profunda, proposta pelo método, faz com que as interações se desenvolvam com mais empatia e, desta forma, com mais respeito e atenção.

A CNV não é um conjunto de técnicas ou uma receita de bolo, e sim, uma proposta para conexão mais pacífica entre pessoas e, desde sua criação foi aplicada com êxito em muitos países e diferentes áreas da sociedade.

Por exemplo, nos programas de paz, após a guerra civil de Angola, Moçambique, Ruanda, Irlanda Sérvia e Croácia

O doutor Rosenberg orienta que, para o funcionamento correto da comunicação não violenta é necessário que os praticantes conheçam os quatro componentes principais, que são:

1. Observação

É importante observar a situação para entendê-la corretamente. Rosenberg propõem questionamentos da mensagem que está recebendo, porém, sem criar julgamentos precipitados ou juízo de valor. Restringir-se a detectar o que gosta ou não gosto do fato ocorrido e não a forma como outro faz ou fala.

2. Sentimento

Após observar, é preciso entender qual sentimento a situação desperta e, nomear esses sentimentos: raiva, felicidade, tristeza, calma, ansiedade e assim por diante. O autor destaca que a pessoa que se permite a vulnerabilidade, consegue aprender a diferença entre o que sente, vê e pensa.

3. Necessidades

O passo seguinte ao entendimento é o reconhecimento das necessidades que estão ligadas a esse processo. Uma solução é mais fácil e pacificamente encontrada quando a pessoa consegue expressar suas necessidades.

4. Pedido

Ao chegar nesta etapa, os interlocutores estão a um passo das ações concretas e práticas, pois, sabem o que esperar um do outro. O autor orienta a utilização de uma linguagem positiva, afirmativa para fazer o pedido.

Como aplicar na prática

Para aplicar a CNV é preciso aprender a separar fatos de julgamentos. Um exemplo bem básico e corriqueiro, tanto nas empresas, como na vida pessoal, é a pontualidade.

Imagine que o chefe de J. pediu que chegasse com duas horas de antecedência ao evento que estão organizando, para acertar os detalhes e deixar tudo em ordem para os participantes.

No dia do evento, J. teve uma emergência hospitalar na família e não conseguiu avisar seu chefe, chegando em cima da hora do início do evento. Seu chefe com

os nervos à flor da pele, esbraveja: “Difícil contar com você, está sempre chegando tarde, quando a gente mais precisa. Isso é muita falta de respeito e profissionalismo!”

Se J responder: “E eu não suporto mais seus gritos!”, o conflito está montado e o evento e até o relacionamento profissional poderão estar seriamente comprometidos.

Utilizando os quatro componentes que falamos podemos ter um cenário completamente diferente disso. Imagine a diferença na comunicação se J. ouvisse algo assim:

“Quando você atrasa a um evento que organizamos juntos e como uma equipe (observação), eu me sinto desrespeitado (sentimentos), uma vez que a pontualidade é importante para mostrarmos aos convidados que estamos comprometidos com o evento (necessidades). No próximo, você poderia chegar na hora combinada? (pedido)”

Percebe que o foco está na ação e não na pessoa? Você pode até pensar: “Essa frase é longa e não parece tão natural. Mas, com a prática da CNV, os usuários vão se acostumando e adaptando ao vocabulário mais adequado para si.

Como aplicar na prática

Há cerca de 900 a.C, foi escrito o Livro de Provérbios, atribuído ao rei Salomão, que consta na bíblia cristã e hebraica e que ensina: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira”. (Provérbios 15:1).

A CNV busca exatamente isso: uma comunicação branda, que proporcione o entendimento entre as pessoas, mantendo os debates no mais alto nível de respeito aos pontos de vistas diferentes. Proporcionando compartilhamento de conhecimentos e de experiências saudáveis.

Recapitulando, para aplicar e praticar a CNV é importante: não julgar ou acusar, explicar suas necessidades de forma clara e objetiva; colocar-se no lugar da outra pessoa, sempre que possível, nunca alimentar conflitos, coloque o foco nos fatos ou ações e não na pessoa.

Deixo aqui, mais uma frase do livro “Provérbios”, do escritor Marcos Rogério para a reflexão:

“O conhecimento é nada mais do que uma acumulação de fatos brutos, mas a sabedoria é a capacidade de ver as pessoas, eventos e situações como o Amor infinito os vê”.

 

Texto  escrito por Betto Alves

É jornalista, publicitário, especialista em Marketing Digital. Experiência em gestão e consultoria de projetos de comunicação offline e digital. Atua como professor na Esamc Campinas, nos cursos de graduação e MBA da instituição, nos eixos de negócios, comunicação e audiovisual. Especialista em desenvolvimento de treinamentos presenciais e em plataformas EAD. Ministrou palestras motivacionais para líderes e colaboradores em várias empresas, com foco Gestão de Pessoas, Marketing Digital, Reprogramação de Hábitos, Gerenciamento de Crise, Maximizar Resultados e Otimizar processos, dentre outras práticas pertinentes ao universo corporativo. Produtor de eventos com foco em Marketing e Empreendedorismo e Marketing Social. Atuação em grandes emissoras de TV locais, e nacionais, como Produtor Executivo, Redator, locutor, Repórter e Apresentador; Editor-Chefe e Diretor de Programas Ao Vivo. Concepção de programação para WebTV. No segmento impresso, atuou como repórter e jornalista. É professor do IBDEC desde de 2018, na área de Marketing Digital.

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